quinta-feira, 21 de julho de 2011

Lucy in the sky with diamonts

Andei sem inspiração e triste. Não tive vontade de escrever. Adivinha? Brigamos de novo! Acho que, com 21 anos de convivência, qualquer relacionamento sofre seus altos e baixos. O meu, claro, não seria exceção!

Escrever para mim sempre foi fácil. Não tinha ideia de como seria difícil escrever sobre eu. Feridas se abrem, lagrimas escorrem, lembranças que estavam esquecidas, aparecem!

Queria, muitas vezes, pensando bem, acho que sempre, me frustrar menos com as coisas. Sofro porque sempre espero mais das coisas e pessoas. E sempre quebro a cara...

Passado o momento desabafo, vou contar desse relacionamento de amor e ódio que começou 21 anos atrás...

Tinha oito anos, e comecei a emagrecer e beber muita agua. Segundo Lucy, também tinha muita fome, mas ao invés de engordar, emagrecia... Opa! Tem alguma coisa errada! E tinha mesmo, uma glicemia alterada, bem acima do normal. Diagnostico? Diabetes tipo 1.

Paraaaaaa tudo!!! Como assim? Quem tem diabetes na família? Ninguém! Hein? Como?
Se não fosse pela Lucy, acho que não estaria aqui escrevendo. Muitas vezes, quando escrevo, tenho uma duvida. Será que daqui alguns anos lerei tudo que escrevi e darei umas boas risadas? Será que vou chegar a ler?

Não sei! Procura não pensar. Já disse e volto a repetir: não gosto de pensar! Mas isso não quer dizer que não penso! Penso muito! Mas isso também não quer dizer que eu goste...

Voltando... Com 10 anos já tomava insulina, com 19 tive o primeiro grande mal causado pela diabetes e com 27, 9 dias de UTI, ao som de gemidos e pi-pi-pi-pi-pi... Aquele silencio ensurdecedor, que enlouquece e te faz pensar em cada coisa...

Hoje, com 29, sou uma cagona! Não sei se aguentaria mais alguma coisa. Meu pé, minha barriga, o cateter e outras coisas já me consomem diariamente.  Para mim, isso hoje basta! Consequências de uma relação de 21 anos, que, do fundo do meu coração,  desejo que seja infinita, enquanto dure....

sábado, 9 de julho de 2011

Conto de fadas


É engraçado como mudamos… Os finais de semanas eram os dias mais esperados por mim. Não via a hora de chegar a sexta-feira!! 

Hoje, a sexta é um só mais um dia qualquer, como todos os outros. Ela chegou, e daí? Amanhã é sábado, depois domingo, segunda, terça…

Ontem foi legal! Tive uma sexta-feira diferente. Sexta é o dia que ninguém quer fazer nada, só vê a hora de terminar o expediente e aproveitar o fim de semana que começa.

Tive a tarde livre e passei ela quase que toda brincando. Mateus, Luiza e Francisco vieram me fazer companhia e dar um pouco de folgas para suas mães. Ficamos no parque por quase 2h e demos muitas risadas! Fizemos piquenique, brincamos na areia, corremos e, por volta das 18h, já estávamos de pijama assistindo TV e comendo pipoca!

Em dias assim, esqueço de tudo e de todos. Como é gostoso voltar, por algumas horas, a ser criança novamente. Não pensar em nada, só na próxima coisa que você vai inventar dentro daquele mundo que você acabou de construir, explorando, pulando, balançando, sorrindo...

Quando fui assistir Avatar no cinema, a única coisa que pensava era que queria ter um avatar meu! Perfeito, feliz, corajoso, enfim, aquilo tudo que eu desejava ser... Em dias assim, como ontem, meu avatar entra em cena e por alguns momentos, consigo ser tudo aquilo que nossa brincadeira permite! Nesses momentos, eu sou simplesmente a Má, nada mais, nada além...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Super poderes!

Hoje fiquei bastante tempo sozinha. Não gosto! Em dias assim penso muito e as vezes, pensar em excesso, faz mal. Hoje foi um dia mentalmente cansativo. Quando pensei em voltar a escrever sobre meu relacionamento com a diabetes, sabia que seria doloroso. Como quando temos um machucadinho e sabemos que, se tirarmos a casquinha, vai sangrar…

Por muito tempo, diabetes para mim foi um tabu. Hoje, vejo que se aceitá-la e tentar entende-la, vivo melhor. Isso não quer dizer que a gente se dá bem. Pelo contrário, estamos longe de nos amar. Mas as vezes rola um carinho…. Sempre rola, né!

Minha última peripécia foi um cateter inflamado nas costas e uma fissura gigantesca no pé. Nenhuma novidade!!  

Não anda descalça Mariele! Cuidado com esse pé! Não come doce! Cadê o chinelo? Você tomou o remédio hoje? Como você é um relaxo! Deixa eu ver seu pé... Nossa, como melhorou!!! Mas ainda vou fazer mais uma vez curativo...



Tá bom, eu assumo...  Se eu sei que tudo isso pode acontecer e escuto todos os dias as mesmas coisas, porque eu ainda faço? Acho que pelo simples e puro prazer de achar que sou como um super-herói! As vezes, queria ter super poderes, como ser invisível, se machucar e, em segundos, não ter um machucado no corpo. Poder fazer o que quiser sem se preocupar com as consequências. Enfim, ser normal… 

E se tem uma coisa que eu não gosto é de pé machucado, cateter inflamado e glicemia alta. Perco meus super poderes e volto a ser a Mariele, aquela que tenta, mais tá longe, de ser uma pessoa normal...

Príncipe encantado!

Francisco tem quase 3 anos. É o meu príncipe encantado! Quando meus tios Fábio e Telma me disseram que eu seria madrinha de seu próximo filho, chorei! De alegria! Lembro das palavras dela – “Agora você tem mais um motivo para se cuidar. Ser madrinha é uma responsabilidade enorme e eu sei que você vai tirar isto de letra”. E eu chorei….

Ele nasceu um dia antes do meu aniversário, dia 06 de fevereiro. Meu presente adiantado! Quando peguei ele pela primeira vez no colo, sabia que agora tinha alguém para cuidar, para amar, para ensinar… E é engraçado! Como me identifico com ele! Desde pequenino, sempre que me via, vinha no meu colo!

Agora, segundo ele, um menino grande, vem ao meu encontro sempre sorrindo, mesmo que esteja bravo, cansado ou na dele. O mais gostoso é quando ele fala – “Você é a minha Má”.



Assumo, muitas vezes penso em desistir. Pura covardia, ou talvez canseira desta vida de exames, cuidados, decepções, desilusões… Mas dai penso nele! Há um tempo atrás, pensava no, hoje amigo, ex-namorado e que se não lutasse, nossos planos não poderiam ser realizados. Hoje, penso no Francisco…

Não quero que ele cresça sem sua madrinha! Quero participar de seu crescimento, das suas conquistas, quero estar lá quando ele precisar ou quando ele conquistar! E sofrer, lutar, chorar, sorrir junto dele!

Um dia, o Dr. Walter me disse – “Mariele, você pode escolher morrer de diabetes ou com diabetes. Depende de você”. Estou tentando ficar na segunda opção, por mais difícil que as vezes seja….

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Uma gargalhada??


Estes dias estava lembrando de quando coloquei a bomba de infusão. Isto foi depois de ter pego uma infecção E. Aureus, gravíssima, e ficado de cama por meses.

Quando estava em recuperação, em uma visita periódica ao endocrinologista, ele disse para minha mãe que tinha a solução, e que se colocasse aquele aparelho, ele saberia que eu viveria até, quem sabe, uns 60 anos.

Sim, este era o meu medico. Odiado por todos, mas com seu consultório sempre cheio de madames, seus maridos e filhos obesos e mulheres lindas e elengantérrimas, que ele cuidava.
Era de praxe! Ao passar pela sua porta, ele falava que tínhamos engordados! Nossa, como estão gordas! E vinha nos abraçar, com um sorriso no rosto.

Era a tal SIC -  sistema de infusão continua. E lá fui eu, tentar viver meus 60 anos…

Por um mês, fiz cursos de nutrição e manuseamento da bomba. A empresa, suíça, mas com escritório em SP, ficava uma boa parte do dia com você, ensinando como manusear e também a contar carboidratos, essencial para o uso da bomba.

Pronto! O ET estava de volta! Como ia ser andar com um aparelho em mim! Nunca mais iria para a praia?! O que os outros achariam!?

Nunca teria um namorado!!! Chorei, chorei, chorei.... Ate que um dia, um amigo muito querido veio me visitar e, quando já estava em casa ha quase uma hora, perguntou: Ue? Cadê a tal bomba?

Como assim? Você não esta vendo ela? Olha!! E ele deu uma gargalhada!!! Uma gargalhada! Foi ai que percebi que as coisas estavam na minha cabeça! E fui aprender a conviver com ela… A Lucy in the Sky With Diamonds! Em homenagem a pessoa mais importante da minha vida: minha Lucy!

Hoje, e graças a Lucy que estou viva! Que fiz faculdade, pos graduação, morei fora do pais, viajei, amei, lutei, venci…, enfim, vivi!! Acho que eu comecei tentar aceita-la e viver em paz, eu e ela, ela e eu!

A luta acaba sendo diária, estressante, dolorida e feliz! Vale a pena tentar, definitivamente…. Hoje, não tenho vergonha de ser o que sou! Ter que usar um aparelho para viver, de ter a barriga machucada, de ter meus altos e baixos, de rir ou chorar, sofrer ou amar….

Cupcakes!


“Quando uma pessoa passa a sentir a vida triste e sem doçura, perde lentamente as duas funções do pâncreas. Não consegue eliminar a “acidez” dos sentimentos e não consegue mais manter os seus pensamentos “doces”.
O acúmulo de muitos golpes contínuos, como amor perdido, frustrações financeiras, traições, faz com que a pessoa se apegue àquilo que já passou porque, inconscientemente, não consegue se acostumar à realidade das perdas. Assim a pessoa arrasta uma profunda mágoa pelo que ficou no passado e sente que o “doce” da vida acabou. A partir de então, passa a temer o futuro porque sabe que o “gosto” dele pode ser amargo e a insegurança predomina em seu coração.
Quando você compreender que criamos nosso próprio destino, perceberá que aconteceram tantas coisas só porque você não aprendeu a controlar seus pensamentos.
Tudo o que você já viveu foi apenas para ensiná-lo que, mesmo com problemas, poderemos achar a vida “doce”, pois quem dá mais sabor a ela somos nós mesmos.
Espiritualize-se até o ponto de sentir que é agradável poder mudar os caminhos e tentar novos horizontes. Solte o que passou e perdoe sinceramente todos aqueles que, pela ignorância, o fizeram sofrer. A felicidade não entrará em nosso coração se guardarmos mágoas do passado: como seremos dignos da felicidade se não soubermos perdoar?
Tantas portas e janelas para serem abertas, de onde o sol mostrará o seu brilho e calor, e você aí, preso a fatos que já se foram! Acorde, criatura! Seja feliz.
Acredite que seu sol sempre brilhou mas você, que só aprendeu a desconfiar, fechou-se num mundo irreal de habitantes sem amor.
Permita a felicidade e a esperança de novos acontecimentos entrarem em sua vida, livres de toda a imagem do passado. Sinta a doçura em seus atos e em suas palavras e deseje, do fundo de sua alma, a verdadeira alegria de viver. Progrida sem medo do futuro e amplie seus conhecimentos para que você possa descobrir que existem caminhos diferentes, de tudo que você já tentou. Pode acreditar!”
O texto é de Cristina Cairo, que se especializou no tema Linguagem do Corpo. Toda vez que leio este texto, milhares de pensamentos me consomem. Quando criança, sempre me falam que era uma menina brava, de cara amarrada e com um pacote de bolacha de morango na mão! Não lembro da doçura, muito menos da braveza. É engraçado que até hoje, as vezes, quando estou sozinha com meus pensamentos, sempre alguém me pergunta se estou brava. E na hora penso: Mariele, cadê a doçura?

Foi por isso que coloquei milhares de cupcakes no fundo de tela deste blog. Assim, nunca faltara doçura, mesmo nos momentos em que eu estiver azeda e querendo sumir de tudo e de todos!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Minha história


Foi com 8 anos que diagnosticaram a diabetes em minha vida. Uma grande amiga da minha mãe, farmacêutica bem sucedida de Limeira e que até hoje brilha muito, disse que achava que eu estava com diabetes, Imagina só... Tenho 29 anos e há 21, ninguém sabia muito sobre esta doença.

E lá fomos nós, rumo ao laboratório de análises clínicas fazer uma glicemia. Quando o resultado chegou, nada de surpreendente. Três dígitos e preocupação. Acho que naquele dia, ninguém de casa foi mais o mesmo. Tudo mudou e o motivo, claro, foi eu!

Corta os doces, leva no médico, toma remédio, faz glicemia, tenta entender…

Acho que a diabetes está na cabeça de quem tem. Com 8 anos, não sabia nada da vida e cada vez menos sobre esta doença que eu tinha que lidar. Para quem vê de fora, é fácil.  Mas para quem está passando por isso, é um pouco difícil!

Já perdi muita coisa por causa da diabetes! Pessoas, principalmente algumas que eu amava muito, tempo, saliva e lágrimas. Hoje, quando olho para trás e vejo o que me tornei, sorrio e penso muitas coisas....

Com 8 anos fui diagnosticada, com 10, já tomava insulina e hoje, com 29, uso uma bomba de infusão, que apesar de deixar muitas marcas doloridas pelo corpo, é o que me salva. É como dizem, no pain, no gain!

E é assim, vou levando e não deixando ela me levar....

Aos 19, uma infecção tomou conta de mim, mas eu, mais uma vez, venci! Aos 27, ela apareceu de novo e depois de 9 dolorosos dias numa UTI, vendo pessoas morrerem, isolada, mas lutando, consegui vencer de novo!

E cá estou eu! Cheia de problemas, claro, mas viva! Um dia, o cateter inflama. No outro, o dedo dói para fazer destro. Já no outro, a depressão acorda antes que eu e levantar da cama é algo dolorosamente complicado. Mas estou aqui! Viva e cheia de histórias para contar!

Espero que com estes relatos possa ensinar algo para qualquer pessoas, seja bom ou ruim, valendo a pena ou não! E pretendo, todo dia, colocar um pedacinho de mim aqui....